Por que Jesus não voltou ainda?
Por que Jesus não voltou ainda? A resposta a essa pergunta é de vital importância para cada um de nós, não só por causa de suas implicações escatológicas, mas também porque afeta nossa visão de Deus, de nós mesmos e do mundo.
Quero fazer uma afirmação que provavelmente irá chocá-lo: se Jesus pode voltar a qualquer momento (conforme se ensina na maioria das igrejas hoje), o mundo não tem propósito, a Bíblia não tem sentido e Deus é um ser arbitrário, incoerente e imprevisível. Calma! Podemos respirar aliviados, porque nada disso é verdade! Por outro lado, a única conclusão lógica é que JESUS NÃO PODE VOLTAR A QUALQUER MOMENTO.
Antes de fechar o coração e a mente, veja, por favor, o que dizem os seguintes textos bíblicos e acompanhe as minhas conclusões:
“...a fim de que [...] envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3.20,21).
“Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés” (Hb 10.12,13).
Se estudarmos as Escrituras com atenção, veremos que Deus é um Deus coerente, que “faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Ele criou o mundo e o homem com um propósito, e a história não terminará antes que esse propósito se realize.
Da mesma forma que a primeira vinda de Cristo não aconteceu num momento escolhido aleatoriamente por Deus, mas na “plenitude dos tempos” (Gl 4.4), a segunda vinda de Cristo não pode ocorrer a qualquer momento da história. Jesus só poderá voltar quando tiver acontecido tudo o que Deus falou pela boca dos profetas. Ele virá, pela segunda vez, quando a obra que começou na primeira estiver realizada (Ef 5.25-27; Is 53.10-12).
Se isso é tão evidente biblicamente, como o povo de Deus, de modo geral, foi levado a pensar de forma contrária? A resposta é que a forte influência humanista da nossa cultura de origem greco-romana levou-nos para muito longe da herança judaico-cristã, sem nos apercebermos disso. O humanismo afirma que o homem e sua realização pessoal são a medida de todas as coisas. A Bíblia, porém, declara que Deus e sua satisfação e glória são o centro do universo.
Se Jesus realmente encontrar fé na Terra quando voltar (Lc 18.8), será porque a igreja passou por um processo de desintoxicação dessas influências que contaminaram o evangelho. Temos enfatizado coisas que o evangelho não enfatiza e, às vezes, nem sequer existem nele. Temos colocado o foco na salvação individual, na bênção de Deus sobre os empreendimentos pessoais e na realização de nossos próprios alvos nesta vida terrena. E, com todo nosso senso ocidental de precaução e previdência, diante da eventualidade de um cataclismo final, temos procurado garantir a segurança e a felicidade individuais na vida por vir.
Todavia, no meio de tudo isso, perderam-se, quase por completo, o senso de propósito divino na história e a percepção de que nossa vida individual só tem valor na medida em que contribui para o cumprimento desse propósito. Dentro desse tipo de cosmovisão incompleta, Deus torna-se apenas um grande vovô bondoso no céu, cujo único propósito é ver-nos felizes. Para completar, adotamos a visão escatológica de uma volta imprevisível de Cristo sem nenhuma razão ou propósito de acontecer mais em determinado momento do que em outro.
Se, de fato, Deus pudesse enviar Jesus a qualquer momento, ele realmente seria culpado das acusações que muitos lhe fazem por causa de tantas injustiças e sofrimentos que acontecem, a cada hora, neste planeta conturbado. Se não é necessário ter um bom motivo para terminar a história, então, quanto mais rápido Jesus voltasse, menos pessoas sofreriam, e menos maldades seriam cometidas.
Deus, porém, tem um propósito eterno tão glorioso e maravilhoso que todas as terríveis tragédias da história empalidecem e perdem importância diante de sua magnitude. É só por causa dessa visão do alvo final que Deus suporta a dor excruciante que cada injustiça lhe causa. Assim como Jesus, que “pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia” (Hb 12.2), Deus suporta a continuação da história em virtude da emocionante expectativa do cumprimento de seu sonho.
Realmente Jesus disse que “a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt 24.36). Contudo ele também alertou repetidamente sobre a necessidade de “vigiar” e ensinou: “Aprendei, pois, da figueira a sua parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às portas” (Mt 24.32,33). Isso significa que, ao mesmo tempo em que o mundo será pego totalmente de surpresa, o povo apercebido de Deus não o será (1 Ts 5.4,5). Se estivermos vitalmente ligados ao cumprimento do propósito de Deus na Terra, acompanhando, ofegantes, cada passo de seu desenvolvimento, apesar de não sabermos o dia ou a hora, teremos absoluta certeza de sua proximidade.
O meu desejo sincero é que, ao ler sobre o propósito eterno de Deus nos próximos artigos, seu coração comece a arder de paixão e identificação com esse propósito a ponto de você deixar suas ambições individualistas e egoístas para cooperar com o Senhor no cumprimento de seu sonho! Que o povo de Deus desperte do sono e da embriaguez espiritual e entenda sua missão como Noiva de Cristo, Templo de Deus, Expressão da Natureza e Imagem de Deus por toda a eternidade, e que cada um de nós coloque no altar seus alvos pessoais em prol dessa causa!
por Harold Walker